sábado, 8 de março de 2014

HOJE O JORNAL DE NOTÍCIAS DESTACA AS EQUIPAS CAMPEÃS NACIONAIS FEMININAS E... AS LOMBITAS ESTÃO LÁ!




A ENTREVISTA NA TOTALIDADE COM FERNANDA PIÇARRA - por Arnaldo Martins
Nome completo do clube: CENTRO RECREATIVO E CULTURAL DA QUINTA DOS LOMBOS
 Data de fundação: 02.06.1975 - Publicação e constituição do CRCQL em Diário da República a 18.08.1978
 Número de sócios:  1.825
Principais Títulos:
Futsal Séniores Femininos
- Taça de Honra AF Lisboa - 2013-2014
- Taça Nacional Feminina de Futsal - 2012-2013 
- Campeonatos Distritais AF Lisboa - 2008/2009 - 2010/2011 - 2011/12
- Supertaça AF Lisboa - 2010/2011 - 2011/12

1 - Como vê a maior adesão e presença do sexo feminino nas mais diversas modalidades?
A prática feminina teve um grande aumento nas ultimas décadas naturalmente porque a participação da mulher na sociedade tem sido cada vez mais activa, no entanto, se tivermos em conta a taxa de feminização esta era ainda apenas 25% em 2009 (Dados do IDP). Temos ainda um grande caminho a percorrer.

2 - Houve alguma mudança de mentalidades? 
A mudança leva muito tempo. Há cerca meio século a mulher nem votar podia. O aumento da participação da mulher no desporto é importante em todas as suas vertentes,  há modalidades com mais aceitação do que outras por parte dos familiares das jovens,  há ainda muitos estereótipos por ultrapassar. Para mim tudo começa na escola, demonstrando às crianças que não há desportos de homem e tarefas de mulher e vice-versa, por exemplo.  

3 - No caso dos Lombos, como caracteriza a equipa e o espírito que existe no balneário?
O CRC Quinta dos Lombos é essencialmente uma equipa de trabalho e vocacionada para o colectivo. O espírito de grupo é enorme e as atletas têm a noção de que "vestir a camisola" é uma grande responsabilidade.

4 - Qual a sua ligação ao clube e atuais funções? Quantas horas dedica por dia ao clube?
Estou no clube desde 1998, actualmente sou coordenadora da secção de futsal feminino e treinadora da equipa B. 
O Clube tem 4 equipas femininas federadas e uma equipa de infantis que participa em encontros informais. Actualmente é o clube com mais jogadoras inscritas na FPF na modalidade de futsal. Para além disso ainda sou responsável pela comunicação. Temos um blogue com quase 440.000 visualizações, temos vídeos resumo e fotos de quase todos os jogos de todas as equipas, temos ainda mais de 5.000 fãs no facebook e twitter. São muitas horas diárias dedicadas por paixão e fá-lo-ei enquanto o meu marido me apoiar da forma que o faz e conseguir estar rodeada de pessoas fantásticas como tenho tido a sorte e o privilégio de trabalhar até agora.

5 - As atletas são remuneradas? Conciliam a atividade desportiva com o trabalho?
As atletas recebem uma verba para as deslocações que não cobre a totalidade das despesas que elas têm. São pessoas extremamente bem formadas, a maioria com um curso superior, posso dizer que são profissionais dentro do amadorismo. Fazem três treinos por semana, à segunda-feira treinam das 22h às 23h30, chegam a casa tardíssimo mas fazem-no porque são exigentes com elas próprias e sabem que se quiserem vencer terão de o fazer. Nada nos foi dado, tudo foi conquistado com muita dádiva e sacrifício da vida pessoal.

6 - Quais são os objetivos do clube a curto, médio e longo prazo?
Infelizmente não conseguimos fazer grandes planeamentos. Dada a escassez de meios financeiros, pela pouca visibilidade da modalidade no feminino, dependemos muito da boa vontade das pessoas em se darem e quererem ajudar porque se identificam com o projecto. Temos jogadoras da equipa sénior A e ex-jogadoras que nos ajudam com as equipas de formação e, graças à sua entrega, conseguimos manter uma identidade própria e uma mística. Ser "Lombita" é um pouco de tudo isso. Cada jogadora sénior tem uma "afilhada"  nas equipas de formação. O que posso afirmar com mais certeza é que o grande objectivo é continuar ter uma identidade e afirmá-la cada vez mais, se o conseguirmos, seremos cada vez mais unidas e consistentes consequentemente isso repercutir-se-á na qualidade do trabalho a fazer no dia a dia porque as atletas e técnica(o)s se irão identificar mais com ele.

7 - Acredita que um dia poderá haver profissionalismo no setor feminino, no que diz respeito ao futsal?
Existem apenas duas equipas profissionais masculinas de futsal, o Sporting e o Benfica. A cultura desportiva do nosso país baseia-se no clubismo. Se o Sporting, Benfica e Porto tiverem equipas há visibilidade, se não tiverem não é notícia e não tem audiência. Isso parece ser uma premissa para tudo e para todos, a não ser que haja grandes marcas ou empresas que se interessem por uma modalidade (Surf, Ténis...). Fazer do desporto uma questão cultural terá de ser sempre uma decisão política. O desporto faz bem, o desporto dá-nos valores mas em 95% dos casos não dá dinheiro. Se o lazer for um dos grandes sectores de actividade do futuro, se as pessoas têm o direito a fazer da prática desportiva uma profissão, há que pensar sobre a forma de criar condições para que isso aconteça com espectáculos que tenham publico e audiências gerando assim postos de trabalho e capacidade para angariar patrocínios. 
Entretanto era importante dar condições de treino às atletas (bons técnicos, equipamentos, horários, instalações, transportes, apoios médicos e de fisioterapia), insistir na sua formação, dar apoio e estimular  as empresas para que empreguem atletas e técnicos de "alta" competição. O desporto e a cultura podem e devem ajudar a mudar a nossa "enferma" sociedade, no sentido de valorizar o que as pessoas gostam de fazer de forma a que se sintam bem com elas próprias.

8 - O público adere ao desporto feminino?
Quando há qualidade aliada a uma boa promoção há publico. No III Mundial Feminino de Futsal disputado em Dezembro de 2012, em Oliveira de Azeméis, houve essas duas componentes e o resultado foram um Pavilhão a abarrotar e audiências na TV absolutamente fantásticas.

"...O III Mundial de Futsal Feminino colocou uma vez mais à prova a capacidade organizadora da Federação Portuguesa de Futebol. O sucesso do evento a nível desportivo e organizativo terá contribuído decisivamente para a integração desta competição no seio da FIFA, que seguiu atentamente o desenrolar das operações em Oliveira de Azeméis entre os dias 2 e 9 de dezembro.


Ao longo dessa semana passaram 24 mil espectadores pelos dois pavilhões que albergaram jogos da competição. Cada partida teve em média 900 pessoas a assistir, mas em várias, nomeadamente as que envolveram a Seleção Portuguesa, houve casa cheia. A adesão à transmissão televisiva de três jogos também atingiu números assinaláveis, com a final Portugal-Brasil, de dia 9, a cotar-se como o programa mais visto da RTP 2 nesse domingo. Cerca de 350 mil telespectadores seguiram o desafio, e nalguns momentos a audiência aproximou-se dos números obtidos pelos outros canais generalistas e abertos. O desempate por grandes penalidades entre Portugal e Espanha, na meia-final, ultrapassou os 400 mil espectadores..." Fonte FPF


9 - O título nacional da época passada foi especial?
Todos os títulos são especiais. Nas duas épocas anteriores tínhamos sido finalistas vencidas. Fomos para a final-four como outsiders, ninguém considerava a nossa equipa favorita. Foi uma competição disputada até ao ultimo segundo, acabámos o nosso jogo e tivemos de estar à espera do resultado final do outro que se disputava à mesma hora. Foram sentimentos indescritíveis, chegar ao cimo da montanha após 15 anos de trabalho de tanta gente, o título foi daquelas atletas e daquela equipa técnica mas também de todos e todas que contribuíram ano a ano para que lá chegássemos.

10 - A nível de apoios, como sobrevive a secção? 
A Câmara Municipal de Cascais contribui com as inscrições e os transportes a nível nacional, a Resul - Equipamentos de Energia, SA tem sido a nossa parceira nos últimos três anos, a Junaman - Exportações tem um acordo connosco no sentido de apoiar o gabinete de fisioterapia, o Restaurante Estrela do Mar na Praia de Carcavelos apoia-nos há dois anos, as jogadoras da formação pagam uma mensalidade, fazemos eventos e rifas de forma a angariar mais meios financeiros. Qualquer pessoa e entidade pode ajudar dando donativos e beneficiando fiscalmente do Estatuto de Utilidade Publica Desportiva do CRC Quinta dos Lombos. Além disso, ainda estamos à procura de uma parceria para o naming que ajudaria em muito a equilibrar o nosso reduzido orçamento.

HOJE O CRCQL ESTÁ DE PARABÉNS POR FAZER A DIFERENÇA E APOSTAR NO DESPORTO NO FEMININO!

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