quinta-feira, 30 de julho de 2009
TRANSGRIDAM! POR FAVOR!!!
FOTO: NUNO LOURENÇO
Um dia destes apresentaram-me um livro que era uma proposta de modelo de formação para o futebol de 11. Ao desfolhar o livro lá estava a decomposição do jogo e várias propostas para o treino do mesmo. Durante os muitos anos que levo como treinadora, tenho lido muito e tenho-me questionado sobre a melhor forma de formar. Penso que o equilibrio entre os aspectos tecnico-tácticos e os lúdicos, em que se estimula a criatividade e a capacidade de decisão dos atletas, são o ideal para o desenvolvimento dos mesmos. Hoje em dia o trabalho entre os clubes de topo é muito similar. A diferença é feita nos pormenores e a parte psicológica é fundamental nos momentos decisivos. Os grandes atletas distinguem-se na capacidade de arriscar no sítio e no tempo certos. É por isso que concordo muito com a forma como o Wilton Santana vê o futsal.
A necessária transgressão Maio/2009
Wilton Carlos de Santana
Docente do Curso de Esporte da UEL (PR) Doutor em Educação Física - UNICAMP (SP)
Se aos técnicos cabe a missão de, antecipadamente, durante os treinos, definirem os planos de ação dos jogadores, então o jeito de as equipes atuarem corresponde, em parte, à maneira daqueles raciocinarem o jogo. Como planos de ação entrariam, por exemplo, os princípios do sistema defensivo, o comportamento ofensivo coletivo diante da defesa adversária, as estratégias para as situações de bola parada etc. Até aí nada de novo, mas não pode passar despercebido o fato de que, exatamente por essa influência singular, o técnico tem de se manter constantemente atualizado, o que passa por assistir e estudar muitos jogos. Essa dedicação beneficiará os jogadores. Enquanto o técnico inquieto melhora os jogadores, o acomodado os atrasa.
Antes que alguém pense, pelo exposto, que os jogadores farão exatamente tudo o que os técnicos preestabelecerem, alerto que isso seria impossível, pois se trata de jogo, que tem na imprevisibilidade sua característica mais peculiar. Por isso escrevi que “em parte” o jogo da equipe corresponde ao pensamento do técnico. Acontecerá sempre algo mais por que os jogadores entrarão em quadra “vestidos” com os planos do técnico, mas também de “si mesmos”, isto é, da sua individualidade, alicerçada nas suas experiências.
“O jogador transgredirá, em alguma medida, o plano antecipadamente traçado pelo técnico, o que não exclui atuar sob sua influência. É uma transgressão necessária”.
Se houve compreensão até aqui, posso facilmente acrescentar que o técnico inventa um modelo de jogo (um jeito de jogar). Este será do tamanho da sua compreensão sobre o jogo. A meu ver, tanto melhor o modelo quanto mais incrementar, por um lado, o que os jogadores têm de melhor, isto é, suas virtudes e por outro lado lhes mascarar os defeitos. No entanto, mesmo sob um bom modelo de jogo, jogar será sempre mais complexo do que as idéias dos técnicos. Sempre as extrapolará.
O jogador, que é quem joga, transgredirá (irá além), em alguma medida, o plano antecipadamente traçado pelo técnico. Isso não exclui atuar sob sua influência. Cada um na sua. O técnico cria o modelo e o jogador a atitude. O técnico antecipa alguns planos para facilitar aos jogadores jogar e estes têm a difícil missão de solucionar problemas que ninguém previu que aconteceriam. O técnico dá os contornos para a atuação tática do jogador. O técnico coloca o jogador na quadra na posição certa e o insere num modelo de jogo ofensivo e defensivo. A partir daí é por conta do jogador.
O jogador inteligente jogará sob estratégias do técnico, mas dará vazão às suas próprias idéias, sem que isso comprometa o seu desempenho e o da equipe. É uma transgressão necessária. O jogador mediano não consegue fazer isso. Ele joga, exclusivamente, para cumprir ordens e se não acaba, por completo, comprometendo seu rendimento, sempre frustra o desejo do espectador de ver, no jogo, algo surpreendente. O técnico comum e o jogador mediano vão à quadra para trabalhar. Deveriam jogar. É o que fazem os grandes técnicos e os craques. Por isso diferenciam-se.
Fonte: PEDAGOGIA DO FUTSAL
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